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AQUISHOW BRASIL 2025/ENTREVISTA | Emerson Esteves reflete sobre a Aquishow em Uberlândia e critica relação entre ministérios

AQUISHOW BRASIL 2025/ENTREVISTA | Emerson Esteves reflete sobre a Aquishow em Uberlândia e critica relação entre ministérios

Data de Publicação: 30 de maio de 2025 11:10:00 Em entrevista exclusiva à Cerrado Rural Agro o empresário e um dos coordenadores da Aquishow Brasil, faz um balanço preliminar do evento em Uberlândia, analisa o atual momento da piscicultura no Brasil, elogia o ministro da Pesca e Aquicultura, e afirma que o ministro foi traído por seu colega da Agricultura.

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Por Antônio Oliveira

Em entrevista exclusiva à Cerrado Rural Agro, Emerson Esteves, ex-presidente e atual tesoureiro da Associação de Piscicultores em Águas Paulistas e da União (PeixeSP) e um dos coordenadores da Aquishow Brasil, faz um balanço preliminar do evento realizado nesta semana em Uberlândia. Ele analisa o atual momento da piscicultura no Brasil, elogia o ministro da Pesca e Aquicultura, André de Paula, e afirma que o ministro foi traído por seu colega da Agricultura em relação à importância do filé de tilápia do Vietnã.

 

Emerson Esteves, (esquerda), ao lado do dono da "Maior
Tilápia do Brasil", Wilber Douglas (Foto: Antônio Oliveira)

Cerrado Rural Agro: Emerson, esta primeira edição do projeto itinerante da Aquishow Brasil atendeu às expectativas da organização?

Emerson Estevas: Sim, atendeu. Nós tínhamos uma expectativa muito boa em relação à localização de Uberlândia, considerando a infraestrutura da cidade, como hotéis, aeroporto e espaços para eventos. Prova disso é que, em março, praticamente já havíamos vendido todos os estandes. Sabíamos que a feira seria um sucesso, pois o público gosta de novidades, de emoções, de visitar novos lugares e conhecer outros estados. Quando um evento acontece em um único local, algumas pessoas não têm a oportunidade de acessar outras cidades e estados. Em Rio Preto e Santa Fé, por exemplo, tivemos algumas dificuldades para realizar o evento.  

Mas aqui, em Uberlândia, ficamos muito satisfeitos com os resultados. A cidade está posicionada praticamente no centro do Brasil, o que facilitou o acesso para pessoas do Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste, tanto de carro quanto de avião. Estamos bastante contentes, e o balanço deve ser positivo, com as empresas elogiando o público e a estrutura. Saímos com a sensação de dever cumprido. Claro que sempre há pontos a melhorar, que são comuns a qualquer evento, e já identificamos algumas oportunidades. Tenho certeza de que no ano que vem, realizando a feira em Uberlândia novamente, conseguiremos fazer um evento ainda melhor do que este.

Cerrado Rural Agro: Inicialmente, o projeto itinerante tinha como objetivo realizar uma edição anual em cada cidade e estado. O que motivou a mudança de ideia para continuar mais uma ano aqui em Uberlândia?

Emerson Esteves: A dificuldade em estabelecer arranjos produtivos locais foi um fator decisivo – trabalhar os resultados alcançados pela região por meio desta edição. É necessário formar parcerias com o estado, o município, o Senar, o Sebrae estadual e o Governo do Estado. Montar esse tipo de estrutura todo ano é bastante desafiador, especialmente em anos de eleição, que trazem complicações, além das trocas de diretoria em alguns órgãos governamentais. Assim, percebemos que realizar o evento anualmente em cidades e estados diferentes se tornaria mais complexo. Por isso, decidimos fazer o evento a cada dois anos em um estado, e depois em outro, para que possamos construir um arranjo melhor em cada local. Nosso objetivo é ter uma feira cada vez maior e mais acessível, tanto para os expositores quanto para os visitantes, o que também é uma das metas da Aquishow.

Pergunta: Cerrado Rural Agro: A feira serviu como uma vitrine para várias empresas de todo o Brasil e de alguns países, além de destacar o potencial de Minas Gerais. Você acredita que esta edição pode ser um marco, um divisor de águas, para este estado?

Emerson Esteves: Com certeza. Trouxemos para Minas Gerais a discussão sobre a tilapicultura nacional. O estado possui um enorme potencial, sendo atualmente o terceiro maior produtor de pescado, especialmente de tilápia, no Brasil. A Aquishow aqui em Uberlândia iniciou importantes diálogos com o Governo do Estado e os governos locais, despertando um interesse maior pela aquicultura. Esse setor, às vezes, passa despercebido em algumas regiões, e o cultivo de tilápia ainda é pouco conhecido por alguns segmentos sociais e econômicos, que não compreendem o impacto dessa atividade para algumas áreas. Mas, durante a organização da Aquishow em Uberlândia, percebemos o interesse do Estado, dos órgãos governamentais e do município em implementar políticas públicas que impulsionem ainda mais a atividade aquícola. Portanto, vejo que, de fato, Minas Gerais marcará um antes e um depois da Aquishow.

Cerrado Rural Agro: Com esta mudança, o estado de São Paulo perdeu a Aquishow como um evento fixo em seu território. Na sua opinião, como empreendedor e representante da Peixe São Paulo, o que isso significa para aquele estado?

Emerson Esteves: A Aquishow é muito maior do que isso. Ela pertence ao setor de aquicultura, não à Peixe SP. A Aquishow não tem dono; é uma iniciativa pensada pela Marilsa (Patrício, que é a presidente e coordenadora do evento). Em 2017, a Peixe São Paulo passou a assumir a organização e a realização da feira junto com ela, com o objetivo de realmente impactar o setor em nível nacional. Quando a feira é vinculada a um único estado, isso limita o acesso ao que estamos experimentando em Uberlândia hoje – trazer tecnologia, fomentar discussões e melhorar a região.

Sabemos que São Paulo tem um enorme potencial, como um grande produtor e consumidor de pescado. No entanto, o estado precisa fazer sua parte, aprimorando políticas públicas e questões relacionadas ao licenciamento ambiental. A Aquishow esteve em São Paulo durante treze edições, e conseguimos avançar bastante em termos de licenciamento ambiental e estruturação da cadeia produtiva. Mas a Aquishow cresceu e hoje é uma referência mundial na tilapicultura, e é fundamental levar essa experiência para todo o Brasil.

"Proteger nossa piscicultura é essencial; a saúde do setor vai além da competição de preços."

Seria injusto da nossa parte, eu, Marilsa e Lucas – três apaixonados pela causa – permitir que o evento pertença a um único estado. A Peixe São Paulo é uma entidade estadual, mas tem um forte trabalho a nível nacional. Temos uma trajetória mais longa que outras entidades federais, atuando desde 2002, quando foi criada a primeira Secretaria de Aquicultura e Pesca no governo federal. Há mais de 20 anos, buscamos políticas públicas em Brasília e discutimos com o estado de São Paulo a melhoria do ambiente de produção.

Portanto, apesar de a Peixe São Paulo ser uma entidade estadual, temos uma representatividade e um trabalho significativos em nível nacional. A Aquishow também precisa seguir esse caminho. Por isso, sentimos a necessidade de mudança ao longo das edições e estamos muito felizes com os resultados de trazê-la para Uberlândia.

Fernanda Gomes e André de Paula (Foto: Antônio Oliveira)

Cerrado Rural Agro: Para finalizar essa entrevista, como você avalia se o Ministério da Pesca e Aquicultura tem correspondido em termos de políticas públicas com o setor no Brasil?

Emerson Esteves: O ministro André de Paula (titular da pasta) é muito comprometido e sempre fala a verdade. Ele não tenta enganar o setor; desde nossas primeiras reuniões, foi claro e objetivo, deixando claro o que é viável e o que não é. O Ministério da Pesca e Aquicultura enfrenta muitas burocracias, pois depende de outros ministérios, como o do Meio Ambiente, e também de órgãos, como a Agência Nacional das Águas e a Marinha. No entanto, conseguimos avançar bastante em alguns aspectos, como a inserção do uso de águas da União. O número de contratos assinados nos últimos anos demonstra um crescimento significativo.

Agora, o Ministério precisa se estruturar um pouco mais para ter mais força. É uma instituição recriada, nova; ao longo dos anos, perdeu um pouco de sua identidade, passando de ministério a secretaria e depois indo para o Ministério da Indústria e Comércio, para a Presidência da República, e retornando ao MAPA. Hoje, sob a liderança do ministro André de Paula, que assumiu no início do atual governo, há um esforço para restabelecer sua relevância.

É importante reconhecer que o crescimento do Ministério não acontece da noite para o dia. O ministro está conduzindo muito bem essa interlocução. Embora haja áreas que precisam de melhorias, como em qualquer setor, ele é bastante transparente e tem aberto as portas para a sua equipe. Manteve profissionais importantes dentro do corpo técnico do ministério, que fazem uma diferença real.

Vemos a Fernanda Gomes de Paula assumindo a Secretaria Nacional de Aquicultura, uma pessoal da área, e a Juliana, da Diretoria de Águas da União, que é muito respeitada no setor. Isso demonstra a vontade do ministro em acertar. É claro que ele não conseguirá resolver tudo em quatro anos, mas é alguém comprometido com o que faz e que está acessível ao setor. Quando precisamos conversar em Brasília, ele sempre nos responde e está disponível. Portanto, sabemos que ele está no caminho certo e esperamos que faça um bom trabalho.

Cerrado Rural Agro: Não poderia encerrar sem lhe fazer esta pergunta: qual é a sua opinião sobre a concorrência com a tilápia do Vietnã?

Emerson Esteves: Na verdade, o ministro André de Paula e o setor de piscicultura foram traídos. A liberação das importações é de responsabilidade do Ministério da Agricultura. Existem precedentes, como quando o setor se organizou junto com o ministro Carlos Fávaro e conseguiu barrar as importações devido a questões sanitárias. Nosso receio não é apenas a chegada do filé do Vietnã a preços mais baixos, mas, de fato, as questões sanitárias. Temos enfermidades no Vietnã que não estão presentes na tilapicultura brasileira.

Emerson Esteves e a presidente da Aquishow Brasil,
Marilsa Patrício (Foto: Antônio Oliveira)

O que ocorreu recentemente parece ter sido feito de forma apressada, como se houvesse uma pressão para liberar as importações rapidamente. O ministro André de Paula não conseguiu, talvez, segurar os acordos que o governo tem com o Vietnã, como a venda de carne bovina e outras transações comerciais. Essas relações costumam ter suas moedas de troca. É fundamental que o setor seja consultado e esteja preparado para isso. Acredito que o Ministério da Agricultura deve realizar todas as análises de risco necessárias para evitar que novas enfermidades cheguem ao Brasil.

Sinto que o ministro André de Paula foi pego de surpresa pelo Ministério da Agricultura, mesmo tendo uma boa relação com o ministro Fávaro. A situação surpreendeu a todos. O presidente Lula esteve no Vietnã e, na semana seguinte, autorizou a importação do filé de tilápia. Não houve um diálogo eficiente com o Ministério da Pesca para entender os motivos que justificariam não liberar as importações e para ouvir mais o setor sobre os riscos envolvidos.

O setor de piscicultura tem crescido de maneira contínua nos últimos anos, com uma taxa de crescimento de aproximadamente 10% ao ano, tornando-se importante para a atividade econômica do país. Sinto que o ministro André de Paula também foi pego de surpresa, assim como todo o setor. Quando conversamos pela primeira vez, ele mencionou a importância de ser ministro da Pesca, destacando que isso facilita o diálogo direto com o presidente, em comparação a ser uma secretaria dentro do MAPA.

Agora, é o momento dele usar sua posição de ministro e aproveitar a boa relação que tem com o presidente da República e com o ministro Fávaro. É essencial rever todo esse processo e trabalhar em defesa dos produtores de peixe no Brasil.

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