Por Bonnie Waycott

Após relatos de que a cor do salmão de viveiro pode estar ficando mais pálida, os pesquisadores acreditam que o mesmo fenômeno está ocorrendo no camarão. À medida que as fazendas de camarão buscam aumentar a produtividade e a lucratividade, o nível de intensificação vem aumentando com densidades de estocagem mais altas nos sistemas de produção e camarão feito para crescer mais rápido. Isso reduz a capacidade da produtividade natural de atender às necessidades nutricionais do camarão e resulta em efeitos indesejados, incluindo pigmentação deficiente.

Chee Kiat Ng, chefe de desenvolvimento de negócios da JF Nutritech, em Kuala Lumpur, Malásia, está trabalhando com um aditivo à base de carotenoides para camarão derivado do óleo de palma.

“A pigmentação é crucial para o camarão”, disse ele ao Advocate. “Quando mudam, eles descartam muitos dos pigmentos que estão armazenados em sua casca. Isso significa que eles precisam de níveis suficientes de carotenóides em seus tecidos para manter o mesmo nível de pigmentação em sua nova casca. Infelizmente, porém, sua cor está desbotando, principalmente em fazendas com densidades de criação muito altas. Os sistemas internos também podem resultar em cores ruins, assim como os sistemas de baixa salinidade, onde o camarão pode mudar com mais frequência”.

No passado, as práticas do sistema de cultivo de camarão eram mantidas em níveis extensivos ou semi-intensivos, com alimentos naturais ricos em astaxantina disponíveis para os animais, de acordo com Chiow Yen Liew, gerente regional de marketing para a Ásia-Pacífico da empresa de saúde e nutrição DSM . Hoje, no entanto, a maioria das fazendas comerciais de camarão são operadas em sistemas intensivos ou superintensivos, o que expõe os animais a maior estresse devido à densidade de estocagem, desempenho de crescimento (estresse de muda), estresse de osmorregulação e aumento da incidência de doenças.

A cor do camarão é extremamente importante devido ao impacto visual e à capacidade de obter preços mais altos. Para alguns, também é um sinal de boa saúde (Foto da roda de cores do camarão cortesia da DSM)

“As mudanças no ambiente em que os camarões são cultivados, como maior transparência da água, aumento da cultura (desequilíbrio de nutrientes), fatores genéticos, frequência de muda e composição da alimentação podem levar a mudanças na pigmentação”, disse Liew.

Dominique Corlay, diretor da Aquaculture Natural Solutions em Coëtmieux, França, concorda com Liew que o estresse durante o cultivo ou colheita induz uma perda de intensidade de pigmentação. Outras causas de má pigmentação incluem condições de preservação e armazenamento. Por exemplo, a cobertura de camarão cru e seu transporte – se a distância entre uma fazenda e a fábrica de processamento for longa, a cor pode ser afetada. A má qualidade da ração é outro problema, disse ele, principalmente se a ração não contiver carotenóides suficientes, que têm benefícios comprovados na cor, no desempenho do crescimento e na saúde das duas espécies de camarão mais cultivadas - camarão branco ( Litopenaeus vannamei ) e camarão tigre preto ( Penaeus monodon ).

O carotenóide mais importante na determinação da cor do camarão é a astaxantina, um antioxidante altamente eficaz que também confere ao salmão de viveiro sua cor rosa. A astaxantina não apenas traz a exuberante tonalidade vermelha quando o camarão é cozido, mas também atua como um nutriente essencial para manter a saúde, aumentar a resistência ao estresse, melhorar o bem-estar, as taxas de crescimento e sobrevivência e apoiar o desenvolvimento das gônadas e a função imunológica. Em comparação com outros antioxidantes, como as vitaminas C e E, é mais forte e mais potente, tornando-se uma boa fonte de pigmento para o camarão.

A fim de fornecer antioxidantes e carotenóides vermelhos para espécies como salmonídeos e crustáceos, as fontes de pigmentos naturais como Panaferd ® estão crescendo significativamente. Feito pela fermentação do microrganismo marinho Paracoccus carotinifaciens , o Panaferd® oferece a mesma fonte de carotenóides da natureza e é produzido livre de antioxidantes químicos ou OGMs. Ele também fornece altos níveis de proteínas – quase 50%, disse Corlay, que recentemente apresentou os benefícios do Panaferd no World Aquaculture Singapore 2022 .

“Peixes e crustáceos na natureza precisam de carotenóides para sobreviver e os únicos organismos que podem sintetizar carotenóides são algas, fungos e bactérias como o Paracoccus carotinifaciens”, disse Corlay. “Esse é um dos componentes do início da cadeia alimentar no meio aquático e produz uma das maiores concentrações de carotenoides, entre eles a astaxantina. Na aquicultura, o camarão pode metabolizar um pouco de beta-caroteno em astaxantina, mas essa quantidade é limitada em sua dieta, resultando em uma cor pálida. É aqui que o Panaferd pode ser adicionado. A astaxantina melhora a cor – é um antioxidante comprovado e aumenta os principais parâmetros de imunidade no camarão.”

Ng ressalta que a cor é extremamente importante a jusante na cadeia de abastecimento de camarão por causa de seu impacto visual direto. Preços melhores podem ser obtidos para camarões de cores mais fortes, diz ele, principalmente em países como a China, onde os consumidores estão dispostos a pagar mais por camarões com coloração mais intensa e onde a cor dos camarões importados é monitorada com frequência. Em países onde a indústria processadora está madura, a cor já é um critério significativo para a precificação do camarão. Isso é evidente na Tailândia, por exemplo, onde camarão com cor desejável pode obter um prêmio entre THB10 e THB30 (25 a 75 centavos) por kg.

“À medida que os consumidores obtêm mais informações sobre a pigmentação e como ela afeta a qualidade e a saúde do camarão, haverá uma demanda maior por camarões com cores mais vivas”, disse Ng. “As fazendas podem manter essa cor se o mercado puder identificar os critérios esperados do camarão cultivado e fornecer soluções sobre como as fazendas podem atender a esses critérios. Os agricultores já planejam sua produção para permitir as margens máximas de suas operações com base nas demandas do mercado local”.

Liew acredita que os agricultores devem trabalhar em estreita colaboração com as partes mais a jusante da cadeia de valor, não apenas para comercializar seus produtos, mas também para entender o que pode ser feito para manter a cor e agregar valor à sua produção. Além de melhorar as técnicas de preservação e a logística de transporte, as fazendas também podem explorar o potencial e o retorno do investimento da boa pigmentação, enquanto a cadeia de valor do camarão precisa trabalhar em conjunto para garantir que o valor da boa pigmentação e outras características positivas do camarão sejam traduzidos em cada parte interessada, desde agricultores e fábricas de rações até fornecedores. Olhar além da cor para o valor nutricional, qualidade e sabor da carne e comunicar os benefícios e o valor do camarão médio também será importante.

“As fazendas de camarão precisam de uma estratégia de pigmentação que atenda às necessidades das partes interessadas da indústria e forneça consistência”, disse Liew. “As fazendas devem garantir que, quando alimentam o camarão, possam atingir as metas de cor desejadas. O camarão pode ser enviado para testes laboratoriais para analisar os níveis de astaxantina no músculo, casca, olho ou cefalotórax. Muitas informações científicas podem ajudar uma fazenda a otimizar e atingir a cor desejada. Enquanto isso, o camarão enriquecido em astaxantina pode ser uma fonte única de antioxidantes e nutrientes anti-inflamatórios, além de ser bom para a saúde e ter baixo teor de gordura. Aumentar a conscientização sobre isso também ajudará com melhores preços.”

“A qualidade nutricional do camarão pode ser melhorada com o aumento de carotenóides e vitaminas lipossolúveis que são suplementadas na alimentação do camarão com óleo de palma refinado”, acrescentou Ng. “Projetar alimentos para atender às necessidades nutricionais do camarão para um sistema de produção específico permitirá uma maior especialização dos produtos de camarão no mercado.”

*Bonnie Waycorr se interessou pela vida marinha depois de aprender a mergulhar com snorkel na costa do Mar do Japão, perto da cidade natal de sua mãe. Ela é especialista em aquicultura e pesca com foco particular no Japão, e tem um grande interesse na recuperação da aquicultura de Tohoku após o grande terremoto e tsunami de 2011 no leste do Japão.

Artigo publicado originalmente no site do Global Seafood Alliance,  instituição que promove práticas responsáveis ??de frutos do mar em todo o mundo por meio de educação, defesa e demonstração. A GSA reúne líderes da indústria de frutos do mar, academia e ONGs para colaborar em questões transversais como responsabilidade ambiental e social, saúde e bem-estar animal, segurança alimentar e muito mais.