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SUPER BACTÉRIA DA TILÁPIA – O que se pensou ser uma bomba, não passou de um traquezinho

SUPER BACTÉRIA DA TILÁPIA – O que se pensou ser uma bomba, não passou de um traquezinho

Data de Publicação: 26 de janeiro de 2023 10:35:00 COFARMNEWS consultou várias fontes da piscicultura brasileira, sobretudo da tilapicultura. Segundo elas, não há motivo para pânico, até mesmo porque, como diz a PeixeBR, essa bactéria ainda não foi encontrada nos cultivos brasileiros e setor está preparado para combater mais uma doença #super bactéria #Descoberta superbactéria #Klebsiella pneumoniae

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Os padrões de qualidade e sanidade da tilapicultura brasileiras começam a
partir da alevinagem..... (Foto: Antônio Oliveira)
 

Por Antônio Oliveira

No último dia 18 do corrente mês, o site da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), agência ligada ao Ministério da Educação, publicou matéria noticiando a descoberta de uma “super bactéria” que estaria afetando a criação de tilápias em todo o Brasil. Ao receber esta informação, o site COFARMNEWS, preferiu não publica-la antes de ouvir a pesquisadora e sua orientadora, respectivamente, Daiane Vaneci da Silva e Fabiana Pilarski (da Unesp); outros cientistas, a Associação Brasileira de Piscicultura (PeixeBR), a Embrapa Pesca e Aquicultura e a PeixeGen, unidade de pesquisa da Universidade Estadual de Maringá. Não que estivéssemos duvidando da Ciência e dessas duas cientistas. De forma alguma. Entendemos que é preciso muito cuidado com este tipo de informação, pois estão em jogo milhares de reais em investimentos em estrutura de pesquisa, alevinagem, cultivo e abate, além da geração de milhares de  empregos e renda. Não que, se o problema afetasse a saúde do plantel brasileiro de tilápias e a saúde da população consumidora desta espécie no Brasil e no mundo, iríamos deixar de publicar o fato.

Ouvimos algumas vozes da piscicultura dos maiores centros produtores de tilápia e buscamos a opinião e a orientação de institutos de pesquisa e da pesquisadora Daiane Vaneci. Com esta tivemos duas tratativas. Na primeira ela se comprometeu ser entrevistada pelo site; na segunda, disse que o que tinha que falar já falou na matéria da Capes, mas que mesmo assim, estaria a disposição. Porém sumiu, de novo.

Talvez o que assustou tilapicultores, e a nós aqui, foi o título da matéria (“Descoberta superbactéria que atinge tilápias no Brasil”). Mas no corpo da matéria – na verdade uma entrevista -, ela explica melhor:

Causas

“A possível causa da infecção de peixes pela bactéria está relacionada ao fato desta ser encontrada em diferentes ambientes e fazer parte da microbiota do solo e de corpúsculos na água. No Brasil, como a maior parte da produção de tilápia é realizada em tanques-rede de pequeno, médio e grande volume, localizados em represas, rios e braços de rios, o despejo ilegal de efluentes – tanto doméstico como industrial – nesses ambientes é comum, o que possivelmente está causando a contaminação dos peixes de produção, por estes estarem mais estressados e imunossuprimidos.”

O que aquicultores e piscicultores podem fazer agora?

Quando uma doença aparece, alguns produtores de peixes com um menor nível de informação, ofertam antimicrobianos sem ao menos identificar qual o patógeno está comprometendo a saúde dos animais. Essa estratégia é arriscada porque os antimicrobianos podem não ser efetivos para as bactérias, especialmente quando não são comumente encontradas na piscicultura. Isto é mais preocupante ainda porque pode-se estar criando cada vez mais bactérias resistentes aos antimicrobianos, agravando ainda mais a situação. O ideal é sempre procurar um laboratório de diagnósticos para que seja realizada analises adequadas para uma identificação de patógeno e tratamento adequado. 

O que dizem os produtores

CONFARMNEWS buscou a opinião dos produtores dos grandes lagos, pessoa do presidente da Associação de Piscicultores em Águas Paulistas e da União e produtor de tilápias, Emerson Esteves.

- Já sabemos que o nosso maior desafio na produção de peixe, e em especial, a Tilápia, pelo seu volume e características de produção é a questão sanitária. Nosso modelo de produção intensivo em tanques- redes ou em viveiro escavados nos traz muitos desafios e sempre estamos atentos ao surgimento de novas enfermidades – diz o produtor.

Ainda conforme Emerson Esteves, essa bactéria descoberta nessa pesquisa ainda não causa preocupação, pois segundo relatos de vários profissionais da área sanitária a produção não corre riscos de surtos dessa enfermidades.

-  Eu, particularmente, acho desproporcional a maneira pela qual são lançadas as matérias a respeito dessa pesquisa. Muito sensacionalismo que assusta a todos do setor, só pelo título. Acho que todas os pesquisadores junto com suas universidades, antes de divulgar seus resultados de novas enfermidades deveriam entrar em contato com  o setor produtivo e preparar uma nota em conjunto. Temos hoje a PeixeSP, PeixeBR e várias outras entidades representativas que estão sempre à disposição para colaborar, pois uma notícia propagada dessa forma faz um estrago no setor inteiro e compromete todo um trabalho sério e bem feito aqui nas águas do nosso Brasil – enfatiza

Emerson Esteves é de opinião também que “a notícia ruim voa e a boa vai de tartaruga”

... e culminam, no abate e processamento do peixe (Foto: Antônio Oliveira)

 

-Mesmo esclarecendo essa pesquisa, como bem fez a nota da PeixeBR,  o estrago pode ser grande, pois recebi essas reportagens em grupos de familiares, amigos de pessoas leigas no assunto que se assustam e podem afugentar o consumidor por medo e falta de conhecimento. Então fica aqui uma crítica construtiva para que os pesquisadores que fazem um belíssimo trabalho em várias áreas da aquicultura brasileira não tornasse pública tais pesquisas dessa forma, sem antes dialogar e comunicar adequadamente - frisa.

Ainda conforme o produtor de tilápias na região dos Grandes Lagos de São Paulo e Mato Grosso do Sul, a piscicultura brasileira tem na tilapicultura diversas doenças que acometem os peixes e ele diz ficar tranquilo quanto a divulgação dessa possível enfermidade, pois o setor tem excelentes laboratórios e profissionais na área que vão dar todo o suporte necessário para o enfrentamento das novas doenças.

- Meu conselho é sempre tem mais cautela que pânico, temos que pensar na cadeia como um todo e trabalharmos juntos em prol dessa atividade tão importante para nosso país - conclui.

Já a PeixeBR e o professor Ricardo Pereira, da Peixe Gen,que também é membro desta associação nacional, após nossa consulta, por publicar Nota de Esclarecimento e compartilha-la conosco.

“Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR) afirma que a bactéria Klebsiella pneumoniae não oferece risco para a tilápia produzida no Brasil.

A entidade consultou diversos especialistas e enfatiza que a referida bactéria, comum na microbiota intestinal de diversas espécies animais – inclusive seres humanos –, não é um patógeno da tilápia e, assim, não representa risco para a atividade e os consumidores brasileiros.

A PeixeBR acrescenta que as indústrias de produtos para saúde animal associadas fazem um excelente e minucioso trabalho de vigilância sanitária de patógenos nos projetos de produção de peixes de cultivo de todas as regiões brasileiras e nunca identificaram a K. pneumoniae.

A entidade tranquiliza a cadeia produtiva e os consumidores, ressaltando que as práticas de biosseguridade utilizadas na piscicultura brasileira possibilitam identificar eventuais patógenos prematuramente, agindo proativamente para evitar sua proliferação.”

Atualização desta matéria em 06/02/2023:

Após muita polêmica com o tom de alarmismo, o Jornal da Caunesp publicou, no dia 2 deste mês, nova matéria. De forma ma equilibrada e com experiência jornalística, ao contrário da primeira matéria, a narrativa sobre a pesquisa em questão ficou esclarecedora e sem sensacionalismo. Clic aqui para ler a íntegra desta nova matéria.

 

 

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