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ESPECIAL ALGODÃO BAIANO (I) – Associativismo, ciência, tecnologia e sustentabilidade socioambiental: as razões do sucesso da fibra baiana
Data de Publicação: 26 de julho de 2024 15:18:00 A cotonicultura no Cerrado baiano contribui para que o Brasil alcance a liderança global na produção e exportação de algodão, destacando a qualidade, sustentabilidade e inovação do setor
Por Antônio Oliveira
Durante os dias 19 e 20 de julho deste ano, a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) promoveu um road show do algodão no Cerrado baiano com a participação de mais de 20 jornalistas e influenciadores da região e de outros estados brasileiros. A iniciativa se dividiu em duas etapas: a “Rota da Fibra” e o “Dia do Algodão” (mega dia de campo com aproximadamente 1.400 pessoas). A primeira consistiu numa visita a uma propriedade em fase de colheita de algodão, a fazenda Agro Basso, em Luís Eduardo Magalhães; visita e demonstrações do Centro de Treinamento da Abapa; Laboratório de Análise de Fibras; uma algodoeira e as obras de pavimentação de mais uma estrada estadual pela Abapa.
A convite da Abapa, eu embarquei nesta caravana técnica e, a partir desta matéria, vou reportar porque o algodão do Cerrado baiano é um dos melhores e mais produtivos do mundo, contribuindo para que o Brasil chegasse às posições de maior produtor e exportador da fibra no mundo. Siga-me!
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Presidente da Abapa, Luíz Carlos Bergamaschi, dá boas vindas aos jornalistas (Foto: Antônio Oliveira) |
Dedicação, pesquisa, qualidade, sanidade, resiliência, espírito associativista e boas condições edafoclimáticas, principalmente do Cerrado do Centro-Oeste e Nordeste do Brasil, culminaram, na atual safra, com a produção de mais de 3,7 milhões de toneladas na safra 2023/2024, projetando o país ao posto de maior produtor e exportador da fibra do mundo, superando o todo poderoso Estados Unidos. Este país já foi derrotado pela cotonicultura brasileira na Organização Mundial do Comércio, em março de 2005, no contencioso do algodão (protesto do Brasil contra os excessivos subsídios dos americanos ao algodão produzido pelos americanos, prejudicando a produção brasileira).
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Apoio da Abapa a cotonicultura familiar no sudoeste da Bahia (Foto: Abapa) |
Esta conquista no mercado externo foi anunciada durante a 75ª reunião da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Algodão e seus Derivados, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, na conferência Anea Cotton Dinner, promovida pela Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea). A expectativa dos cotonicultores brasileiros era que esta meta fosse alcançada apenas em 2030.
- A liderança no fornecimento mundial da pluma é um marco histórico, mas não é uma meta em si, e não era prevista para tão cedo. Antes disso, trabalhamos continuadamente para aperfeiçoar nossos processos, incrementando cada dia mais a nossa qualidade, rastreabilidade e sustentabilidade, e, consequentemente, a eficiência - ressaltou o presidente da Abrapa, Alexandre Schenkel, para a Agência Brasil.
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João Carlos Jacobsen, pioneiro na cotonicultura do oeste da Bahia (Fotomontagem: Divulgação e Antônio Oliveira - algodão) |
De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), fundação vinculada ao Ministério do Planejamento e Orçamento, em estudo feito em 2021, a cotonicultura brasileira vem se destacando cada vez mais no cenário nacional do agronegócio até que em 2019 apontou de uma vez por todas que seria alçada ao cenário internacional, registrando, em 2019, uma produção aproximada de 6,9 milhões de toneladas da fibra, catapultando o setor à posição de quarto maior produtor mundial, perdendo apenas para a China, Índia e Estados Unidos, gerando, nesta época, R$ 10,6 bilhões.
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Centro de Treinamento da Abapa, em Luís Eduardo: mais de 90 mil pessoas capacitadas (Foto: Antônio Oliveira) |
Vale lembrar que a cotonicultura brasileira, liderada pelo estado do Paraná, teve um grande obstáculo no seu desenvolvimento, levando-a à lona a partir de meados da década de 1980, com o ataque de uma praga perigosa e altamente destrutiva que ainda insiste em derrotar a cultura no Brasil, o bicudo-do-algodoeiro, sempre vencido por pesquisas, ciências e tecnologias desde a retomada da cultura nos cerrados brasileiros, a partir dos anos 1990. Este “renascer das cinzas” tornou o Cerrado do Mato Grosso no maior produtor nacional de algodão e, anos depois, o Cerrado baiano (oeste da Bahia) no segundo maior produtor brasileiro. A produção no Paraná foi reduzida a zero e o estado nunca mais conseguiu – ou não teve mais interesse – em retomar a cultura em seu território.
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Colheita de algoidão na Fazenda Agro Basso, em Luís Eduardo Magalhães (BA)
(Foto: Antônio Oliveira)
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Cerrado baiano em cena
Graças, também, à ousadia, resiliência, necessidade de diversificar a produção agropecuária na região e, principalmente, o espírito associativista, o algodão entrou em cena no Cerrado baiano, com ótimas condições edafoclimáticas para a cultura, a partir do início da década de 1990, embora ainda muito tímido e tentando recolocar a Bahia no cenário nacional da cotonicultura, onde estava durante a década de 1980 até ser derrotado, também, pelo bicudo-do-algodoeiro.
Conforme a Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), com sede administrativa em Barreiras e estrutura de pesquisa, tecnologia e análise de fibra em Luís Eduardo Magalhães, o algodão na Bahia era cultivado, naquela época, na região de Guanambi, município do Vale do Iuiú, no sudoeste baiano, que chegou a cultivar mais de 330 mil hectares da fibra. Não só o bicudo, mas a forma de manejo da cultura contribuiu para que o algodão desaparecesse da região. O preparo da terra era feito por meio do uso intensivo da grade aradora, compactando o solo; falta de erradicação de caules, que rebrotam quando não destruídos, na entressafra, abrindo campo para o ataque de pragas, como o bicudo e o pulgão.
A cotonicultura no sudoeste da Bahia ressurgiu, por meio de agricultores familiares, a partir da safra 2014/2015, graças ao apoio da Abapa e representa 2% da produção baiana. Sob o título de “Projeto de Apoio aos Pequenos Agricultores Familiares”, o apoio da Abapa à cotonicultura da região de Guanambi consiste na doação de kits de irrigação com capacidade para 1 hectare. A iniciativa se dá, graças aos recursos do Fundo para o Desenvolvimento do Agronegócio do Algodão (Fundeagro).
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Visita ao Laboratório de Análise de Fibra da Abapa, em Luís Eduardo Magalhães
(Foto: Antônio Oliveira)
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Voltando à cotonicultura empresarial no Cerrado da Bahia, as primeiras sementes da fibra foram lançadas em solo a partir do início da década de 1990, quando a soja e o milho eram as únicas vedetes no cenário agrícola do Cerrado baiano. Conforme a Abapa, as primeiras experiências com a fibra na região se deram por meio da Algodoeira São Miguel (grande empresa do setor em nível nacional), que almejava um produto de fibra longa, dos tipos Pima e Acala del Cerrado.
- As informações da ASM começaram a ser difundidas para um grupo de 28 interessados em saber mais sobre a possibilidade de diversificação da matriz produtiva regional - diz a Abapa.
Aí entrou o espírito empreendedor, de entusiasmo e de união desses 28 produtores.
- Os primeiros a encarar o desafio foram João Carlos Jacobsen, que, em 1995, implantou 50 hectares de algodão na Fazenda Independência, em Formosa do Rio Preto, e Ademar Marçal, que dedicou 20 hectares à cultura na mesma época. Jacobsen virou um veemente defensor da causa, desafiando os colegas e vizinhos a aderirem à cotonicultura. O resultado é que, na safra 1997/98, o Oeste da Bahia já possuía oito mil hectares semeados - informa a Abapa.
A partir deste pioneirismo, produtores da região passaram a investir em pesquisas, tecnologia e união da classe, inclusive criando uma entidade representativa dos cotonicultores, a Abapa, no ano 2000.
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Visita a Algodoeira Zanatto, em Luís Eduardo Magalhães (Foto: Antônio Oliveira) |
Linhas crescentes
A cotonicultura no Cerrado baiano saiu dos 50 hectares iniciais, na safra 1995/1996, com produção e produtividade ainda muito tímidas, para uma área plantada de 305,4 mil hectares, produção de 1.541,67 toneladas e produtividade de 336,1 arrobas por hectare. A linha sempre crescente registrou leves quedas em poucas safras. De traço quase zero em área plantada, produção e produtividade para altos números nestes três itens, foi um salto muito grande.
A seguir, apresento gráficos da Abapa que mostram a sensacional evolução do algodão na Bahia.
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Evolução da área X produtividade X produção |
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Histórico de áreas e produtividades – Bahia |
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Histórico de áreas e produtividades (ton) algodão capulho – Oeste da Bahia |
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Valor Bruto da Produção |
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Wallisom Tum na Bahia Farm Show 2024 (Foto: Antônio Oliveira) |
A visão do Estado
Ouvi o secretário da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura, da Bahia, Wallison Tum, sobre a cotonicultura na Bahia. Ele destacou os significativos avanços na cultura do algodão no Estado, especialmente na região do Cerrado baiano. Segundo Tum, a cotonicultura tem se consolidado como um pilar fundamental do agronegócio baiano, devido ao seu caráter sustentável e inovador.
- A parceria entre o setor produtivo e o governo, por meio de iniciativas como o Fundeagro e o Prodeagro, que financiam a pavimentação de estradas e investimentos em pesquisas, tem sido essencial para fortalecer essa cultura - afirmou o secretário.
Wallison Tum ressaltou ainda o compromisso do governo em manter a Bahia na vanguarda da produção de algodão, garantindo que a sustentabilidade e a inovação continuem a ser as marcas registradas da cotonicultura baiana. Esse compromisso, segundo ele, beneficia não apenas os produtores, mas toda a cadeia produtiva e a economia do estado.
Ainda conforme ele, a aposta em iniciativas sustentáveis e em tecnologia de ponta tem permitido que a cotonicultura na Bahia não apenas cresça em produtividade, mas também em qualidade, reforçando a posição do Estado como um dos principais produtores de algodão do Brasil.
Tem mais histórias pela frente
Convido o leitor para estar comigo nas próximas “estações” deste Especial. Nelas, conto porque o algodão do Cerrado baiano é um dos melhores do mundo em qualidade, produtividade e sustentabilidade socioambiental. E um dado muito importante: para cada R$ 1 investido pelos cotonicultores em ações de pesquisa, tecnologia, infraestrutura, programas de apoio à sociedade, o retorno social per capita é de R$ 3,52. Nos últimos anos eu tenho observado a sucessão familiar no Cerrado baiano e nesta turnê vi alguns bons case, e vou reportar nesta série. Série que terminará com uma entrevista exclusiva com o presidente da Abapa, Luíz Carlos Bergamaschi.
#Algodão #CerradoBaiano #Abapa #Agronegócio #LiderançaMundial #ProduçãoSustentável #Cotonicultura #BrasilAgrícola #TecnologiaNoCampo #Resiliência

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