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ESPECIAL - Pesquisa desenvolve filé de pirarucu em conserva. Este peixe tem futuro

ESPECIAL - Pesquisa desenvolve filé de pirarucu em conserva. Este peixe tem futuro

Data de Publicação: 24 de janeiro de 2023 15:19:00 Carne em conserva do peixe tem boa aceitação em testículos sensoriais. Nativo da Amazônia, o pirarucu apresenta desempenho superior a outras espécies, ganhando peso rápido e apresentando ótimo aproveitamento da carne #filé de pirarucu #pirarucu #carne de peixe enlatada #pirarucu em conserva

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O filé de pirarucu em conserva agrega valor ao pescado, surge como um
potencial ativo da bioeconomia e é mais uma opção no mercado de peixes
enlatados (Foto: Ronaldo Rosa)

 

Por Kélem Cabral, da Embrapa Amazônia Oriental*

Pesquisadores da Embrapa desenvolveram o filé de pirarucu ( Arapaima gigas ) em conserva, tecnologia agroindustrial que agrega valor ao pescado e desponta como potencial ativo de bioeconomia e desenvolvimento na Amazônia. O pirarucu está entre os maiores peixes de água doce do Brasil e do mundo e tem despertado a atenção de consumidores, manejadores e produtores em todo o país, em especial, na Amazônia, de onde é originário. Entre as características atraentes ao mercado destacam-se o rápido ganho de peso desse e o aproveitamento de carne, superior ao encontrado no gado.

A tecnologia está disponível a empresas interessadas em dar continuidade à pesquisa e leva-la ao mercado consumidor. Ela foi desenvolvida por meio de parceria entre a Embrapa Amazônia Oriental (PA) e a Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ) e resultou em um comunicado técnico detalhando todo processo e que pode ser acessado gratuitamente no portal da instituição . 

A pesquisadora Alessandra Ferraiolo , uma das autoras do trabalho, defende que é necessário diversificar os produtos de peixes enlatados existentes no mercado, e com isso, possibilitar agregação de valor, assim como aumentar a vida útil do pescado fresco.

O pirarucu é um peixe carnívoro que pode atingir, em condições de natureza, até três metros de comprimento e ultrapassar os 200 quilos. No caso da criação comercial, em cativeiro, os números também são animadores, pois o animal chega a 12 quilos em apenas um ano, tamanho apreciado pelo mercado.

Em termos de rendimento econômico, pesquisas da Embrapa indicam que o pirarucu suplanta ao dobro o tambaqui ( CoIossoma macropomum ) e em até 40 vezes aos bubalinos, bovinos e ovinos. Considerando-se os elevados rendimentos de carne, o que indica a espécie com elevado potencial para a piscicultura industrial.

Segundo Ferraiolo, o trabalho tem o intuito de agregar valor e incentivar o consumo da espécie, além de diversificar os produtos de peixes enlatados. 

- O objetivo do trabalho foi desenvolver conservas de pirarucu da pesca e da piscicultura e avaliar os produtos quanto às suas características físico-químicas, sensoriais e qualidade microbiológica - detalha.

Ela explica que as vantagens da espécie para esse tipo de processo agroindustrial estão no rendimento muscular e na qualidade da carne. 

- A carne do pirarucu possui cores claras, textura firme, sabor suave, o que agrada aos consumidores. A ausência de espinhas intramusculares e baixo teor de gordura são outros pontos importantes - conta um cientista.

Do rio à lata

(Foto: Vinícius Braga)

 

O trabalho dos cientistas envolveu, além do desenvolvimento de conserva, a avaliação da qualidade do produto final a fim de incentivar o consumo da espécie e fomentar a sua cadeia produtiva.

Os produtos enlatados foram avaliados quanto às suas características físicas-químicas e sensoriais e à qualidade microbiológica. A pesquisadora conta que foi fornecer um produto de boa qualidade nutricional, sensorial e sanitária. É também considerado um produto de conveniência, por ser de fácil preparo, semipronto ou pronto para o consumo. 

- O filé de pirarucu em lata dispensa a cadeia do frio para o seu armazenamento, distribuição e distribuição - enfatiza um cientista.

Ela lembra que, como qualquer pescado, o filé da espécie é altamente suscetível à caça, desafio que a apresentação em lata ajuda a evitar. 

- O benefício aumenta a vida útil, a diversidade de produtos e recebidos do pescado pelo mercado consumidor, além de permitir um melhor controle de qualidade e aproveitamento dos subprodutos, sem perder os benefícios nutricionais -  defende um cientista ao ressaltar que o elevado teor de nutrientes não apresentam pirarucu o torna recomendável ao consumo.

Pelo processo agroindustrial desenvolvido, os filés foram higienizados em solução clorada, imersos em salmoura (3% sal refinado), drenados, cortados e acondicionados em latas. Em seguida, adicionou-se o líquido de cobertura, à base de salmoura a 2% e as latas foram mantidas aos processos de exaustão, recravação, tratamento térmico e resfriamento.

Degustações, em testes sensoriais, também foram realizadas e indicaram que a conserva elaborada com o pirarucu da piscicultura foi a preferida em comparação à elaborada com o peixe orientado da pesca. Os peixes de criação se sobressaíram nos atributos textura, sabor e impressão global. O resultado geral foi a intenção positiva de compra do produto. 

- A conserva de pirarucu, proveniente da pesca ou da piscicultura mostrou boa aceitação sensorial - afirma Ferraiolo.

(Foto: Ronaldo Rosa)

 

Mercado

Os dados oficiais sobre a produção de pirarucu têm oscilado nos últimos anos. Depois de uma alta registrada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE ),  no ano de 2015, quando a produção nacional de consumo algo em torno de oito toneladas, houve uma queda significativa em 2020, quando, de acordo com o instituto, a produção não conseguiu alcançar duas toneladas.

Esses números, no entanto, não condizem com a realidade da produção do pirarucu, segundo Francisco Medeiros, presidente-executivo da Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR). 

Medeiros relata que os dados do IBGE provavelmente registraram apenas a criação comercial e não a produção oriunda dos planos de gestão. 

- A produção do pirarucu se divide entre a criação comercial em cativeiro e os planos de manejo comunitário, estes, nos diversos estados da Amazônia - enfatizou o presidente da PeixeBR.

(Foto: Ronaldo Rosa)

 

Sobre a discrepância de dados, Medeiros acredita que pode estar relacionado à dificuldade de mensurar a pesca de manejo nas comunidades tradicionais. De acordo com o registro da PeixeBR, somente o estado do Amazonas produziu cerca de três toneladas em 2020, ou seja, uma tonelada a mais do que o registrado pelo IBGE.

O PeixeBR reconhece, no entanto, que houve uma queda vertiginosa na produção em cativeiro, mas, ao mesmo tempo, um aumento significativo na produção de manejo e organização comunitária. O executivo avalia que o mercado para esse peixe tem muitos gargalos, mas também potencialidades e que o papel da pesquisa, a união de esforços e implementação de políticas públicas, podem reestruturar e sustentar a cadeia da espécie nativa.

Se por um lado houve queda na produção em piscicultura, o mercado de alimentos enlatados segue aquecido e projeta crescimento, segundo pesquisa divulgada pela empresa de consultoria  Mordor Intelligence . O estudo  Mercado de alimentos enlatados - crescimento, tendências, impacto do COVID-19 e previsão (2022 - 2027)  prospecta crescimento no setor para os próximos anos, com destaque para produtos de pescados e frutos do mar. De acordo com a pesquisa, a pandemia de COVID-19 causou uma tendência positiva no consumo de alimentos enlatados, à medida que mais pessoas frequentaram à comida caseira e às compras no varejo, traje reforçado durante os períodos de confinamento, e que tem sido incorporado às rotinas.

O relatório destaca ainda que o mercado de enlatados, em especial, de peixes e frutos do mar, é impulsionado, principalmente, pela crescente população urbana que prefere alimentos fáceis e convenientes e garante a demanda por alimentos saudáveis, ricos em proteínas, fibras funcionais , vitaminas e ácidos graxos ômega-3.

(Foto: Ronaldo Rosa)

 

Expectativa de novos mercados

O pirarucu é um peixe que traz versatilidade econômica aos produtores, sejam eles de manejo ou piscicultura, pois, tudo se aproveita do animal. A carne, ultrapassa os 50% em aproveitamento da carcaça, pele, escamas e até a língua tem valor comercial e nichos de mercados de alto valor agregado. Os resíduos também podem ser processados ??como insumo destinado à alimentação animal. Características que tornam a espécie adequada ao conceito de “economia circular”.

Essa versatilidade chamou a atenção da família Arima, da cidade de Benevides, região metropolitana de Belém, capital paraense. Proprietária da  Paima Pescado, a família atua há sete anos com a piscicultura e o pirarucu é um dos principais produtos da empresa, como conta o empresário Koji Arima.

O Pará está entre os maiores produtores do país, segundo o IBGE, e a família Arima segue apostando no potencial do pescado. A empresa desenvolveu um sistema de criação própria, em tanques escavados que propiciam o adensamento e crescimento rápido dos animais. 

- Chegamos a 200 animais por tanque e estamos investindo na verticalização da produção, desde a criação das matrizes, alevinos, engorda, chegando ao processamento total do peixe ao fim de um ano - explicou o empresário.

Atualmente, a empresa possui 20 tanques, com capacidade de produzir 100 toneladas anuais e a previsão é expandir para mais 40 tanques até o fim de 2023.

- Abastecemos os supermercados de Belém com filé fresco e entregamos em todo Brasil sob demanda. Nossa expectativa é atingir o mercado internacional - anuncia.

Bolsas de pirarucu

De olho no mercado e na verticalização dos negócios, a empresa criou também um novo empreendimento, a Domfisher, para a confecção de bolsas acessórios tendo como matéria-prima o couro de pirarucu. 

- Nossos produtos são feitos na Amazônia e queremos ganhar o mundo - afirma o empresário.

(Foto: Ronaldo Rosa)

 

Manejo de pesca seguro

Os planos de manejo de pesca do pirarucu vêm se consolidando nos últimos 20 anos. Se há duas décadas havia o risco da extinção da espécie, dado à pesca predatória, hoje, a realidade em dezenas de comunidades na Amazônia Brasileira é de estoques renovados, planos de manejo consolidados, organização comunitária e o começo, ainda que tímido, de conquistas a partir dessa atividade. É o que afirma Ana Cláudia Torres Gonçalves, coordenadora do Programa de Manejo de Pesca do Instituto Mamirauá (AM).

De acordo com ela, os planos acompanhados pelo Mamirauá possuem capacidade de ampliar a produção a partir da pesca do pirarucu e que entre os problemas enfrentados, estão ainda a dificuldade de estocagem e resfriamento, além de buscar novos mercados que possam eliminar os atravessadores, garantindo preços mais justos às comunidades e preservação da preservação dos recursos naturais na Amazônia.

*Via Agência Embrapa de Notícias, com edição da redação do COFARMNEWS.

 

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